Entre o
senso comum e a ciência há uma rutura ou prolongamento?
A ciência e o senso comum apresentam diferenças que mostram claramente a
oposição entre estas duas formas de conhecimento. A ciência
apresenta como principais características o facto de ser metódica, crítica,
estar sujeita a uma evolução constante e ser objetiva. Deste modo, a ciência utiliza o método experimental,
ou seja, o cientista recorre à observação instrumental de fenómenos no
laboratório, com o objetivo de quantificar, confirmar ou até refutar uma
determinada teoria. Sendo assim, o conhecimento científico é adquirido
através da observação experimental. Por outro
lado, o senso comum é dogmático, acrítico, subjetivo, qualitativo e
contraditório não estando sujeito a evolução porque o conhecimento cristaliza
no espaço e no tempo. Com efeito, o conhecimento vulgar não apresenta
um método, ao invés do que ocorre no conhecimento científico. Para além
disso, este é pragmático porque é transmitido de geração em geração, ou seja,
surge de mitos e lendas nos quais os nossos antepassados acreditavam. Esta
oposição mostra a rutura entre estes dois níveis do conhecimento. No entanto
Popper demarca-se desta perspetiva e afirma o prolongamento por considerar que a
ciência parte do senso comum, sendo a crítica o nosso instrumento de progresso.
A teoria da “mente como um balde”, inspirada em Hume, afirma que a nossa mente
não tem conhecimentos inatos e por isso temos de receber a informação através
dos sentidos. Mas com a nossa racionalidade, conseguimos evoluir e
aperfeiçoar-nos em patamares mais complexos. Por outras palavras, este autor
defende que a ciência surge depois de um estudo racional ao conhecimento
vulgar. Em oposição a esta teoria, Bachelard recusa por completo o senso
comum, considera-o um verdadeiro obstáculo epistemológico e, consequentemente,
um limite à investigação e evolução científica.
António Cachada, 11ºA